sábado, 28 de janeiro de 2012




Para parir fecha os olhos
para parir assopra forte
trabalha os músculos
sem tempo pra copos d'água
tudo é suor
tudo é ritual
torce o pé vezenquando para parir
junta a tinta
suco colorido de vida
em teu baixo ventre
deixa escorrer
deixa sujar
deixa sair
para parir, olha pra dentro!

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Infante-a-ria


Crianças gostam

de barulho à noite
de chapéus coloridos
de surpresas à noite
de embrulhos coloridos
de porta entreaberta à noite
de abajures coloridos

Crianças precisam

de pano, de pipa, pipoca, paçoca, pastel, pardal, pantomima
de corda, de cobra, de calha, carroça, caixote, carrinho
de merda, melaço, maldade, mercado, manha, maraca, mainha,
tambor, tênis, talco, troca-troca, traquinice, tangerina

Crianças não vivem sem

um berro de birra
um dente caído
um joelho ralado
e um chiclete no cabelo.

O Nariz


Cheio de fitas coloridas
fita, mira e acerta o infinito
com o nariz
fareja suas nuvens
aspira a chuva
-bico de aflita ave de rapina-
e espirra
centenas de lágrimas
pelo seu vermelho olho.

Fome


Comigo é só isso.
Apenas isso você é:
Alimento imprescindível
para meu peito carnívoro.

Dança



Corte no azul
Nuvem negra
Vendaval de signos
que bailam ligeiros
Chove em minhas mãos
e elas me chovem no rosto
Era impressão tua
Eu não sofria:
Eu forjava uma balada lenta
pra te fazer acreditar.




Tua ausência é isso:
tempestade de neve
na minha cabeça
sem cabelos.



Das lágrimas que derramei
por meu amor
que não me teve amor
me resta esse riso
amarelo
dedo de fumante
acenando
na próxima parada.


Meu coração
se esconde
em tua sombra
bobo
como um cachorro ferido.