terça-feira, 4 de janeiro de 2011


Da procura incasável por uma canção que te pudesse dizer, restou-me nada
Que as canções já falam o que querem
Eram palavras minhas o que me faltavam
E elas nunca me chegaram até então
Noites insone
Um imberbe sentimento de aproveitar-te
Sem saber como traduzir-te
E sabendo, ainda assim, que não havia tradução possível.
Recorri a todos os líricos e simbolistas e (pasmem) cubistas
E nada me vinha.
Pobres poetas esquecidos!
Medíocres por não te terem conhecido
Eu, mais que eles,
Pálido de dó dos antigos arautos,
Conheci a verdadeira, a mais pura poesia:
Teus olhos esmaecendo seu brilho em minha cama
A procurar teu sono.

De um alvorecer de outubro


Acordei com mais um poema
Fincado nos pulsos
Coloquei o teu retrato
Na página mais bonita
Daquele nosso livro de poesias
O café lembrou teu gosto
Antes de escovar os dentes
E o cobertor ainda quente
Do calor do teu carinho
Minhas lágrimas no tapete
Umedecendo tuas pegadas
Sim... eu era feliz...


Depois de muitos cigarros
Brotou o poeminho
Do fundo do cinzeiro.
Brotou fedendo, coitado!
Cheio de cinzas e queimaduras.
Quem me dera, poeminho querido
Cicatrizar-te
E me redimir
De tanto mal que te fiz
Deixando-te tantas bolhas de agonia
E riscas de estrelas sobre tua pele.
Perdoa-me, poema amigo
Ter-te esquecido dessa forma
É que eu estava tão feliz e distraído
Que nem notei o teu penar...