quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Do Coração


Meu coração pobre e mal-cheiroso,
Esfomeado marginal de esquinas,
Lança o olho atrás de tua bondade.
Dai esmolas de afeto a esse ser
Dai abrigo tépido a esse corpo
Formai um sonho esquecido da miséria
Do qual ele não precise acordar.

Esse menino vagabundo que trago dentro do peito qualquer dia desses vai bater à tua porta e pedir-te um sopro de carinho. Marginal que é, se tu não o deres, te agredirá e quererá tomar-te à força, roubando teu néctar para si. Sacies a fome desse esfomeado trovador. Não deixes que ele morra de frio à porta de tua casa. Convide-o para entrar, ofereça um café, dê um sonho com o qual ele possa dormir em conforto. Finge que reza por ele ao pé da cama e, caso ele acorde, cante para que ele possa novamente dormir. E depois se livre dele, caso queira, que ele já estará satisfeito de ter passado um momento que seja desfrutando, mendigo modesto, de uma pontinha de tua atenção.

Um comentário:

  1. Não me canso de ler esses versos...
    talvez uma das coisas mais lindas que já li aqui!
    "...Meu coração não se cansa de ter esperança de um dia ser tudo o que quer..."

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